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Especial 2021
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Saúde

EMAGRECER - MITOS e VERDADES

  • Tassiane Alvarenga
  • A obesidade é uma epidemia no Brasil e no mundo, e dados da Vigitel publicados em 2019 apontam um crescimento em 60% desta doença nos últimos 10 anos, estando atualmente 19,8% dos brasileiros obesos, e mais da metade (55,7%) da nossa população com diagnóstico de sobrepeso. Isto se associa a um aumento significativo de outras comorbidades, tais como diabetes tipo 2 (DM2), hipertensão arterial sistêmica (HAS), doença cardiovascular, esteatose hepática (gordura no fígado), apneia do sono, osteoartrose, depressão, infertilidade e neoplasias como câncer de mama, intestino, endométrio e outras.

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    A Medicina � uma ci�ncia de verdades transit�rias, e no assunto EMAGRECER existem mais MITOS que VERDADES.
    Vamos mergulhar neste assunto?

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    MITO: O tratamento da Obesidade � simples: Comer menos e Gastar mais!!!!

    A obesidade � um quebra-cabe�a complexo, e a ci�ncia ainda n�o tem ideia de quantas pe�as ele possui. Falar para um paciente obeso que ele precisa simplesmente parar de comer e se exercitar mais � como falar para um m�ope que ele tem que enxergar melhor.

    N�o � uma quest�o apenas de esfor�o e for�a de vontade, mas uma quest�o de cada indiv�duo, de sua gen�tica, de seu comportamento, de sua biologia, de sua qu�mica, de seus horm�nios da fome versus da saciedade, de sua alimenta��o, de seu exerc�cio f�sico, de seu sono, de seu estresse, de suas influ�ncias sociais e amizades. Simplesmente considerar comer menos e se exercitar mais n�o � uma solu��o m�gica, e muitos acreditam e defendem que � simples assim, contribuindo ainda mais para o preconceito e estigmatiza��o dessa doen�a m�dica. Precisamos mudar nosso mindset (mentalidade)� para otimizar e humanizar o tratamento da obesidade.

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    VERDADE: O nosso organismo tenta fazer tudo para engordar de novo?

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    Nossos corpos foram designados para armazenar gordura para tempos de escassez. Isso pode ter sido �til milhares de anos atr�s, quando para sobreviver era necess�rio ca�ar e coletar alimentos. Hoje em dia, vivemos em um mundo onde h� mais comida que o suficiente, alimentos com alta densidade cal�rica e facilmente dispon�veis, o homem dorme menos, se tornou cada vez mais estressado, ansioso e sedent�rio.

    O hipot�lamo � um “pequeno/grande” centro regulador de diversas fun��es vitais do nosso corpo, como temperatura, fome, sede, respira��o, e tamb�m do apetite, do peso e do gasto energ�tico. Para evitar que qualquer redu��o dos alimentos nos leve a morrer de desnutri��o, ele controla nossa ingest�o de calorias e nosso gasto energ�tico. Esse centro funciona como se fosse uma balan�a interna (um sensor ou term�metro) que detecta altera��es do nosso peso. De modo interessante, o hipot�lamo tem mem�ria em rela��o ao peso, e guarda como refer�ncia o nosso peso m�ximo (como em um HD de computador), sendo assim, entende que defender esse peso � necess�rio para manter o nosso corpo funcionando bem, caso contr�rio, a nossa sa�de estaria em risco.

    Muitas vezes, o ser humano � capaz de burlar esse sistema, pois pode se alimentar mesmo sem sentir fome, apenas pelo prazer de comer mais (gula ou recompensa positiva) ou utilizar o alimento para promover o al�vio de ansiedade, tens�o, depress�o ou qualquer outro sentimento.
    Por isso, quando come�amos um plano de emagrecimento com dieta restritiva em calorias (seja ela qual for) e atividade f�sica e� come�amos a emagrecer, o hipot�lamo envia sinais para o nosso corpo para aumentar o apetite e diminuir o metabolismo.

    Na busca por sobreviv�ncia, o corpo � auxiliado por horm�nios “teimosos” que fazem de tudo para estimular o reganho do peso perdido.
    Estudos evidenciam que para cada quilo de peso perdido, calcula-se uma redu��o do metabolismo de cerca de 30 kcal, e um aumento do apetite de aproximadamente 100 kcal! � o nosso pr�prio organismo tentando nos levar de novo ao peso original! O problema � que normalmente se pensa que o reganho foi “culpa” do tratamento que se fez, e n�o “culpa” da doen�a obesidade em si, que � cr�nica e recidivante. Ora, se paramos um tratamento de uma doen�a cr�nica como hipertens�o, diabetes, colesterol, n�o � natural que o efeito do tratamento se perca? Por isso a obesidade deve ser tratada para sempre (pode ser com medica��o ou sem, mas algum tratamento deve sempre existir).
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    VERDADE: Apesar do reconhecimento da obesidade como uma doen�a cr�nica grave, prevalente e de incid�ncia crescente, ainda � extremamente escasso o arsenal terap�utico medicamentoso para essa patologia no nosso pa�s.

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    Temos atualmente dispon�veis no mercado brasileiro apenas tr�s medicamentos aprovados em bula para tratamento da obesidade e sobrepeso: sibutramina, orlistate, liraglutida. Al�m disso, n�o existe no Brasil, at� os dias de hoje, qualquer combina��o de medica��es aprovada para o tratamento da obesidade que seja ao mesmo tempo segura e efetiva, apesar da percep��o dos especialistas da �rea de que a melhor maneira de tratar a obesidade �, na maioria das vezes, a combina��o de drogas com a��o sin�rgica, que possam controlar o apetite, promover a saciedade, aumentar o gasto energ�tico basal ou atuar em mecanismos de perda de peso adicionais no organismo.

    De acordo com as Diretrizes Brasileiras para o Tratamento da Obesidade, o tratamento medicamentoso est� indicado quando:

    • IMC *maior ou igual a 30 kg/m� ou

    • IMC *maior ou igual a 27 kg/m� na presen�a de comorbidades
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    Falha em perder peso com tratamento n�o farmacol�gico, ou seja, a hist�ria pr�via do tratamento com dieta e exerc�cio n�o funcionar.

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    Mas � importante lembrar que nenhuma p�lula ou dieta m�gica consegue consertar um estilo de vida ruim. A base de todo plano de emagrecimento, ou seja, os alicerces principais s�o:
    - Alimenta��o hipocal�rica (baixa caloria) e balanceada de acordo com idade, atividade f�sica, metabolismo do paciente;
    - Exerc�cio f�sico;
    - Controle do estresse;
    - Sono adequado;
    - Busca de conex�es sociais e da felicidade.


    E o rem�dio quando bem indicado: apenas como uma “muleta”, para controlar a fome, a gula e ansiedade!!!
    80% dos pacientes obesos, mesmo que altamente motivados, falham em conseguir perder peso apenas com atividade f�sica, dieta e modifica��es do estilo de vida, sendo de grande import�ncia que existam medicamentos seguros e eficazes para o tratamento desta doen�a.
    Muitos pacientes procuram um endocrinologista acreditando que existe uma f�rmula m�gica para emagrecer, mas isto n�o acontece. O emagrecimento � um desafio di�rio e uma verdadeira mudan�a de corpo e de mentalidade. O tratamento deve ser individualizado e sempre com acompanhamento m�dico, nutricional, psic�logos, educadores f�sicos, ou seja, um time a favor do paciente.

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    VERDADE: A melhor dieta n�o � “Low Carb ou Low Fat” mas a que voc� consegue seguir pela vida toda.

    A palavra dieta vem do Grego d�aita, “modo ou m�todo de viver, governar”.
    As evid�ncias cient�ficas mostram que “caloria � caloria”, ou seja, dietas com a mesma quantidade de calorias e de diferentes constitui��es, predominantemente carboidrato, gordura ou prote�na, n�o determinam maior ou menor perda de peso.
    Portanto, o segredo realmente reside em como cortar calorias de uma maneira saud�vel e vi�vel para a sa�de. Cada paciente deve ser estimulado a encontrar o seu caminho, o seu poss�vel e a sua dieta, “cada panela tem a sua tampa”. E lembre-se: comece como voc� quer continuar pois n�o somos apenas veganos, vegetarianos, “low carb” ou “low fat”... Somos resultado do momento, da companhia e da correria.

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    MITO: Para emagrecer � fundamental comer de 3/3 horas.

    � mito� que comer de tr�s em tr�s horas ajuda a emagrecer. O que importa � o n�mero de calorias totais e n�o o n�mero de refei��es. Por exemplo: Imagine que voc� tenha 1.500 reais para gastar, voc� pode fazer 5 compras de 300 reais ou 3 compras de 500 reais. Ou seja, voc� pode sim, comer de 3/3 horas ou fazer 3 refei��es ao dia, o que importa � fazer um balan�o negativo, ou seja, gerar um d�ficit cal�rico ao longo do dia.

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    MITO: Tenho que perder muito peso (mais de 20 kg) para melhorar a sa�de.

    Considera-se sucesso no tratamento da obesidade a habilidade de atingir e manter uma perda de peso clinicamente significativa que resulte em efeitos ben�ficos sobre doen�as associadas, como diabetes tipo 2, hipertens�o, dislipidemia (colesterol alto). Uma perda de peso de 5-10% (ou seja, um paciente de 70 kg deve perder no m�nimo 3,5-7 kg) � um crit�rio m�nimo de sucesso, pois leva � melhora destas doen�as.

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    VERDADE: Existem v�rias estrat�gias para manter o peso perdido?

    As estrat�gias principais para a manuten��o do peso perdido envolvem:

    Automonitoriza��o: A balan�a � amiga ou inimiga? Pesquisas revelam que se pesar com frequ�ncia contribui para a manuten��o do peso perdido. De acordo com um estudo publicado no New England Journal of Medicine, para quem emagreceu e est� tentando manter peso, pesar-se regularmente (ao menos tr�s vezes por semana) reduz pela metade a chance de recupera��o de peso a longo prazo. A chave da manuten��o � a eterna vigil�ncia.
    Para quem est� em fase de emagrecimento, no entanto, pesar-se demais n�o � bom, uma vez por semana � adequado, pois pequenas varia��es podem desanimar.
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    Conhecer a caloria dos alimentos consumidos:
    Usar aplicativos como o Myfitnesspall e sempre consultar o r�tulo dos alimentos.

    Usar pratos menores:
    Ao simplesmente usar um prato que seja 50% maior, voc� � encorajado a comer 20% mais. Para manter suas por��es controladas, tente substituir pratos de 30 cm de di�metro por pratos de 25 cm de di�metro.

    Tenha algu�m para dividir seu sucesso e suas reca�das:
    Existe uma maneira de voc� permanecer comprometido com seus objetivos, mesmo quando sua motiva��o est� acabando? Em ingl�s o termo que se usa � “accountability”, que pode significar responsabilidade ou presta��o de contas ou at� “apoio”. Explicando melhor, no tratamento de doen�as cr�nicas ou na mudan�a de h�bitos e de estilo de vida, estudos sugerem que � super importante voc� ter algu�m para relatar sua evolu��o, para ser seu guia e ponto de apoio. Tudo indica que ter algu�m para relatar o seu caminho, mant�m voc� mais consistente e motivado. E � por isso que a ci�ncia considera essa tal da “accountability” t�o poderosa.

    Ter o conceito de que a obesidade � uma doen�a e tentar criar outras v�lvulas de escape para os problemas do dia a dia que n�o seja a comida.
    Nesse contexto surge o conceito da alimenta��o com aten��o plena (mindfuleating). Se alimentar com aten��o plena � o ato de focar inteiramente em seu prato durante a refei��o. Isso encoraja voc� a prestar mais aten��o aos cheiros, sabores e texturas de seu alimento, assim como aos sinais de que seu corpo est� saciado.

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    A obesidade � uma doen�a real, que acomete pessoas reais, que merecem cuidados reais. E que ap�s a leitura desta mat�ria, os m�dicos, os profissionais de sa�de (nutricionistas, enfermeiros, educadores f�sicos e psic�logos) e os pacientes entendam e respeitem a obesidade como uma doen�a cr�nica, prevalente, recidivante e de dif�cil tratamento. Uma doen�a cr�nica � uma doen�a que dura muito tempo, � “um estado de sa�de alterado que n�o pode ser curado com uma simples interven��o cir�rgica ou com um tratamento m�dico de curta dura��o”. Que toda consulta seja uma janela de oportunidade para encorajar um paciente obeso a mudar o estilo de vida, e a lutar contra a obesidade com todas as armas necess�rias, com ci�ncia e evid�ncia.

    E que a mensagem principal seja que emagrecer n�o tem a ver apenas com perder quilos e quilos de peso, mas com ganhar toneladas e toneladas de vida.

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    por Tassiane Alvarenga



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