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Saúde

Anticoncepcionais - Mitos e Verdades

  • Qual é a Pílula Anticoncepcional ideal? Será verdade que esses medicamentos usados amplamente em todo o mundo para evitar a gravidez causam algum risco para a saúde?

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    Dr. Fabian Silveira Lemos,  Ginecologista que atua em Medicina Reprodutiva.
    Dr. Fabian Silveira Lemos, Ginecologista que atua em Medicina Reprodutiva.

     

    A pílula anticoncepcional chegou ao mercado no início da década de 1960, nos Estados Unidos, ajudando no planejamento familiar e contribuindo para uma revolução do comportamento e estilo de vida da mulher. Entretanto, esse medicamento, composto por hormônios que impedem a ovulação e a gravidez, é visto com desconfiança por muita gente porque estaria associado a ganho de peso e a sérias doenças, como a trombose. Será verdade?
     
    Para esclarecer essas dúvidas, o médico Fabian Silveira Lemos, ginecologista que atua em Medicina Reprodutiva, explica como funciona a pílula anticoncepcional e quais os riscos de seu consumo pelas mulheres. 
    Segundo o Dr. Fabian, os riscos são reais, mas não é bem assim como as pessoas pensam. Os efeitos adversos ocorrem, muitas vezes, pelo histórico de saúde e hábitos das pacientes associados aos hormônios. Mas quando a pílula representa mais riscos do que benefícios os médicos têm em mãos outros métodos, bem seguros, para ajudar as pacientes a evitarem a gravidez.
     
    Trombose
     
    “O grande medo em relação à pílula anticoncepcional é a trombose venosa profunda”, conta o ginecologista, observando que a trombose venosa se caracteriza pela formação de coágulos dentro das veias, principalmente das pernas, que podem se deslocar para os pulmões, resultando na embolia pulmonar, podendo, em alguns casos, levar à morte. 
     
    Essa complicação está associada à pílula anticoncepcional combinada, aquela que contém dois hormônios na formulação, um estrogênio e um progestagênio, sendo o primeiro o vilão da história, aumentando o risco dos chamados fenômenos tromboembólicos, dentre eles, a trombose venosa profunda e a embolia pulmonar. Porém, segundo o médico, existe a opção do uso da pílula anticoncepcional composta apenas do hormônio progestagênio para as mulheres com maior risco de desenvolver essas doenças, além de outros métodos (veja na página 28).
    Por isso é que em algumas situações não se deve usar o anticoncepcional combinado, porque aumenta o risco de trombose, explica o ginecologista, observando, no entanto, que a pílula combinada é a mais comumente indicada pelos médicos porque os casos de complicações são considerados raros e essa pílula traz outros benefícios além de prevenir a gravidez: Melhora a acne (tanto que os dermatologistas costumam prescrever pílula contraceptiva combinada para mulheres com excesso de espinhas), controla a menstruação, reduz o fluxo menstrual, as cólicas e até a TPM, explica Dr. Fabian Lemos.
     
    Antes de decidir sobre qual pílula anticoncepcional ideal para cada mulher, os médicos fazem uma avaliação das condições de saúde e dos hábitos de vida da paciente. Mulheres que fumam e têm mais de 35 anos de idade, que já tiveram trombose ou são portadoras de trombofilias – isto é, doenças que já trazem consigo um maior risco de trombose –, que têm enxaqueca com aura, pressão alta, diabetes, doenças hepáticas, obesidade, dentre outras, são mais propensas a desenvolver trombose venosa com o uso da pílula combinada.
     
    De acordo com a literatura médica, a prevalência da trombose venosa em mulheres que não usam anticoncepcionais combinados é de cinco casos para cada dez mil mulheres por ano. Entre as usuárias, esse número sobe para dez casos em cada dez mil.
    Mas o maior risco de desenvolver a trombose venosa é durante a gravidez, com 30 casos em cada dez mil mulheres, e no puerpério (que é o período até 42 dias após o parto) quando a ameaça da doença é mais real, com 300 casos entre dez mil mulheres. 
     
    Câncer
     
    A relação do câncer de mama com o uso da pílula não está bem estabelecida, segundo o Dr. Fabian, porque ainda existe muita dúvida na literatura médica, com estudos conflitantes. Como precaução, os ginecologistas evitam indicar esse método para as mulheres que tiveram parentes próximas com câncer de mama em idade jovem ou que têm alterações pré-cancerígenas na mama. 
     
    Obesidade
     
    Outra crença popular é que a pílula contraceptiva causa aumento de peso. De acordo com o Dr. Fabian, estudos entre usuárias e não usuárias dos contraceptivos orais não confirmam essa possível associação. Os resultados obtidos mostram que o ganho de peso ocorreu naturalmente com o decorrer dos anos, não tendo, portanto, relação direta com as formulações atuais desse método contraceptivo.
     
    Falha do Anticoncepcional 
     
    De cada 100 gravidezes que acontecem em todo o mundo, 40 delas são não programadas, ou seja, o casal não queria engravidar naquele momento. E nestas, ditas não programadas, em quase metade das vezes, algum método contraceptivo estava sendo usado e falhou. 
     
    “Não existe um método contraceptivo 100% eficaz e todos podem falhar e acontecer a gravidez. Cada método tem suas particularidades como custo, facilidade de acesso, eficácia, duração, efeitos adversos, contraindicações, complicações e benefícios. Por isso, é importante uma avaliação individualizada de cada paciente para a escolha do que será usado, levando em consideração sempre a vontade da mulher. Aqui, como tudo em medicina, devemos avaliar riscos e benefícios, esclarece o ginecologista.
     
    Na pílula contraceptiva oral essa falha, na prática, varia entre 0,3 até 8 gravidezes em cada 100 usuárias por ano de uso e está ligada principalmente ao esquecimento, ou seja, a pílula anticoncepcional não pode ser esquecida nenhum dia devido ao risco de falhar.
    A falha, isto é, o acontecimento inesperado da gravidez é mais problemático nas adolescentes, que chegam a esquecer em média até dois comprimidos por mês. Por isso, o médico recomenda a dupla proteção (anticoncepcional mais camisinha), pois, além de dar uma proteção extra contra a gravidez, ainda evita as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). 
     
    Outras causas de falhas dos contraceptivos orais são: vômitos, medicamentos (certos antibióticos, antiepiléticos e vários outros), pacientes que foram submetidas a determinadas cirurgias bariátricas, além de outras situações. 
    O Topiramato, medicamento utilizado para epilepsia, enxaqueca e até perda de peso, também diminui a eficácia dos contraceptivos orais, por isso, é importante saber detalhadamente os remédios que a paciente toma, para escolher o método contraceptivo mais adequado para cada caso e evitar a falha, explica o médico.
     
    Métodos anticoncepcionais alternativos à pílula

    Métodos anticoncepcionais alternativos à pílula

    Além dos comprimidos de uso oral existem outros métodos contraceptivos reversíveis, como: comprimido vaginal, injeção mensal e trimestral, adesivo, anel vaginal, implante subdérmico e os dispositivos intrauterinos (DIUs). 
     
    O aumento do uso dos chamados contraceptivos reversíveis de longa duração (LARCs, na sigla em inglês) são uma tendência mundial por serem mais seguros para a saúde (menor risco de trombose) e mais eficazes para prevenir a gravidez não programada porque não dependem da mulher se lembrar de usá-los todo dia, como as pílulas. 
    São três os componentes dessa classe: o implante de progesterona (inserido sob a pele do braço), o DIU de cobre e o DIU hormonal, todos com alta eficácia, isto é, uma chance de falha menor que uma gravidez em cada 100 usuárias ao ano (quando usados adequadamente). O Implante tem validade de três anos, o DIU hormonal, cinco anos, e o DIU de cobre, dez anos.
     
    O problema desses métodos de longa duração é o acesso, pois são caros para a maioria da população e dependem do médico para colocá-los. Apenas o DIU de cobre está disponível na rede pública.

     

     

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    Preocupação com adolescentes
     
    Promai na Escola, do Programa Materno Infantil da Santa Casa de Passos, leva informações e orientações para prevenir gravidez precoce.
     
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    A gravidez na adolescência ainda é uma grande preocupação da Saúde Pública no Brasil e no mundo, segundo o médico Fabian Silveira Lemos, especializado em Ginecologia e Medicina Reprodutiva. 
    O Dr. Fabian, que é o responsável pelo atendimento no Setor de Planejamento Familiar do PROMAI (Programa Materno Infantil, que está completando vinte anos de existência), da Santa Casa de Passos, conta que ainda é preocupante o número de mulheres que engravidam na adolescência, ou seja, antes dos dezenove anos de idade, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
     
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    “De acordo com certos levantamentos, até metade dos adolescentes tem a primeira relação sexual sem nenhuma proteção contra a gravidez e as doenças ou infecções sexualmente transmissíveis, e existem muitos relatos de que a gravidez aconteceu logo na primeira relação sexual, conta o médico.
    Com o intuito de prevenir a gestação nessa decisiva fase da vida e as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), a Santa Casa de Passos criou o programa “PROMAI na Escola”, para levar informações e orientações aos estudantes entre 12 e 15 anos de idade nas redes pública e privada e até mesmo na área rural de Passos. Com o “PROMAI na Escola”, que é organizado pela psicóloga e voluntária do PROMAI Maria Cristina Lemos Maia Pereira, Dr. Fabian faz palestras semanais sobre Saúde Reprodutiva, abordando temas como: aparelho reprodutor, ciclo menstrual, métodos contraceptivos, DSTs e a gravidez na adolescência.
     
    “Temos no PROMAI da Santa Casa de Passos meninas grávidas de 14, 13 e até 12 anos de idade em acompanhamento Pré-natal, e, é claro que depois que chegam aqui, toda a equipe multiprofissional presta todo o apoio necessário para que a gravidez e o parto transcorram da melhor maneira possível, mas temos que fazer algo para evitar com que fiquem grávidas, daí surgiu o PROMAI na Escola”, pontua o médico.
    Segundo o ginecologista, o objetivo é evitar o impacto imenso que a gravidez na adolescência causa na vida de uma pessoa, sendo a evasão escolar e o prejuízo na formação profissional os principais problemas, principalmente para as meninas.
     
    Enio Modesto

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