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Especial 2021
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Arquitetura e Construção

Retrofit no Santuário do Educandário

  • O templo de 65 anos passou por uma obra de ampliação e restauro, que trouxe modernidade e novo vigor às suas características originais.

    Nova imagem do SaVnto Aníbal no jardim de frente ao Santuário, as escadas e rampas de acesso.

     

     
    Cesar Tadeu e o pinheiro que ele salvou.

    Para comemorar os 25 anos da elevação da capela do Educandário Senhor Bom Jesus dos Passos à categoria de Santuário, a direção da instituição promoveu uma obra de ampliação do templo, que quase dobrou sua capacidade de lotação. Cerca de quatro meses depois, o Santuário estava pronto para as bodas, que aconteceriam no dia 18 de outubro de 2015. Sem alterar a arquitetura e decoração originais, o Educandário devolveu o recinto para a comunidade totalmente revigorado, numa união harmoniosa entre o original e o moderno.

     
    Esse desafio coube ao arquiteto Cesar Tadeu Elias, conhecido por nutrir admiração pela cultura arquitetônica e preservação das construções históricas da cidade. Após avaliar as condições da edificação sexagenária e do terreno de 164 m² (metros quadrados) disponível para a ampliação, o profissional constatou o potencial do projeto e se lançou num esforço para executá-lo dentro da limitação orçamentária da congregação religiosa.
     
     
    Vista do altar, presbitério com o vitral russo e os relicários de Santo Aníbal e Santo Antônio.

     

     
     
    Lustres em formato de haste de trigo e vigas metálicas revestidas de gesso.

    Como em outras obras que levam sua assinatura, no Santuário, dedicado a Santo Aníbal Maria di Francia, Cesar Tadeu aplicou o conceito do retrofit, nome dado à tendência da arquitetura e design que surgiu na Europa para revitalizar edificações antigas, modernizando-as e readequando-as às necessidades de uso.

     
    “Queriam ampliar sem mexer nas características do Santuário, que faz parte do aspecto afetivo das pessoas que frequentam o Educandário”, diz o arquiteto.
     
     
    Solução encontrada, o passo seguinte era restaurar o forro de madeira, original, com pinho de Riga, espécie nativa da Europa e que foi importada na época da construção do Educandário, segundo observa Cesar Tadeu.
     
     
    A qualidade e conservação da madeira foram examinadas, o que foi importante para a decisão de manter o forro, já que o resultado indicou que seriam necessários poucos reparos. “São 65 anos de resistência”, admira-se o arquiteto, observando que havia cupins em algumas partes, mas poucos, que puderam ser facilmente eliminados.
     
     
    Cesar Tadeu abrindo a porta pivotante do pequeno jardim do novo espaço do Santuário.

    ECONOMIA

     
    No final, 92% da madeira do forro foi mantida, proporcionando uma significativa economia de custos, porque um novo forro estava cotado em R$ 130 mil, o que representava 65% do orçamento total da obra.
     
    Também foram mantidas as portas de madeira, especialmente a da entrada principal, de jacarandá, o que hoje trata-se de uma raridade, e o vitral do presbitério, da mesma fábrica dos vitrais do Teatro e do Mercado Municipal de São Paulo, dois ícones da arquitetura paulistana. “A gente recuperou tudo que podia ser recuperado”, explica Cesar Tadeu.
     
    Vitral de design russo no presbitério do Santuário.
    Relicário com fragmentos do corpo de Santo Antonio de Pádua (imagem acima).

     

     
     
    A parede lateral à esquerda da entrada do Santuário foi demolida para a obra de ampliação e substituída por três colunas com revestimento de metal. Esse espaço ampliado ganhou portas pivotantes de vidro, que dão acesso a um pequeno jardim, que serve também para ventilar o ambiente.
     
    O projeto de Cesar Tadeu também garantiu uma nova capela para o Santíssimo Sacramento. Nesse recinto, construído ao lado do altar-mor, foi instalada uma das quatro janelas que foram retiradas da parede então demolida. Segundo o arquiteto, a capela ainda não está concluída, faltando apenas a instalação de lâmpadas e adornos que simbolizam a magnificência desse espaço sacramental.
     
    Vista do teto, tela de Santo Aníbal, com relicários à esquerda e direita do altar e vitral russo no presbitério.

    SÍMBOLO DE SANTO ANÍBAL

     
    Outra decisão do arquiteto foi retirar os lustres que pendiam do forro do salão original do Santuário. No projeto, os lustres deram lugar a arandelas gigantes, no formato de hastes de trigo, símbolo da obra de Santo Aníbal.
     
    Já no novo espaço, novos lustres, também em formato de hastes de trigo, foram instalados no teto. Um detalhe é que as vigas que sustentam o telhado dessa parte do Santuário são metálicas revestidas de gesso acartonado. O formato dessas vigas remete à cripta onde está o corpo incorrupto (que não se decompôs) de Santo Aníbal, em Messina, onde ele nasceu, realizou sua obra e faleceu.
     
    Sobre o presbitério, também recuperada, uma grande tela, de 1958, que representa o santo em sua cidade natal e onde ele iniciou a obra dos rogacionistas.
     
    O trabalho alcançou igualmente os relicários de Santo Antônio de Pádua, o famoso santo casamenteiro do qual Santo Aníbal era devoto, e dele próprio, que ladeiam o presbitério, logo atrás do altar-mor, a mesa em que o padre celebra a missa. Um documento (bula), com data de 1.900, que atesta a veracidade das relíquias de Santo Antônio está conservado num quadro, no corredor térreo do Educandário.
    Vista parcial do Santuário, com arandelas no formato de hastes de trigo, o forro restaurado e o altar com o vitral e o relicário de Santo Antonio.

     

     
     
     
    Capela do Santíssimo Sacramento com um dos vitrôs retirado da parede demolida.

     

     
    RECURSOS MODERNOS
     
    Com a ampliação, o Santuário de Santo Aníbal Maria di Francia passou a ter duas entradas, ambas com acessos adequados para quem tem dificuldades de locomoção, cumprindo exigências legais de segurança. Sonorização adequada, iluminação com lâmpadas de LED e a ventilação natural das portas pivotantes completam os elementos modernos introduzidos pelo retrofit.
     
    Na parede à esquerda da porta principal foram realocados os bustos de Santo Aníbal e do Monsenhor Messias Bragança (que construiu o Educandário) e as placas comemorativas do cinquentenário de entrega do prédio para a Congregação dos Padres Rogacionistas e dos 25 anos de elevação da Capela a Santuário.
     
    Um detalhe interessante foi a retirada de uma vitrine do adro, que era repleta de imagens de santos. Essas imagens foram redistribuídas no santuário e no Educandário, como a de Nossa Senhora das Graças, que ganhou um nicho, com destaque, na nova entrada.
     
    No jardim de frente ao santuário foi colocada uma nova imagem de Santo Aníbal, em substituição à antiga, dos tempos em que o fundador da congregação rogacionista ainda não havia sido canonizado. Esta ganhou um espaço ao lado do altar-mor.
     
    O retrofit de Cesar Tadeu para o santuário de Santo Aníbal não contemplou apenas as características originais do recinto, mas também sua área externa. Até um pinheiro que poderia ter sido retirado para a construção do novo acesso foi conservado e continua enfeitando o local, no patamar da rampa.
     
     
     
    Arquiteto sofreu “intervenção espiritual”
     
    O autor da ampliação e restauro do Santuário Santo Aníbal Maria de Francia, do Educandário Senhor Bom Jesus dos Passos, Cesar Tadeu Elias, em tom de brincadeira, diz ter sofrido uma intervenção espiritual do Monsenhor Messias Bragança para assumir a obra. O arquiteto já havia feito a curadoria da exposição da indumentária do religioso no Palácio da Cultura e, por isso, acredita numa afeição espiritual com ele.
     
    Porta de jacarandá.

    Cesar Tadeu assumiu o projeto após ser convidado por um amigo engenheiro, Antonio Toscano Bondança, que lhe pediu para ajudá-lo na obra. Na primeira conversa que teve com o diretor do Educandário, padre Luiz Caetano Castro (padre Luizinho), Toscano e um empreiteiro, o arquiteto soube que a ideia original era de demolir o antigo forro e fazer outro igual.

    Contrariando essas intenções, o arquiteto comprovou que o madeiramento ainda estava bom e necessitava de poucos reparos. No final, apenas cerca de 8% da madeira precisaram ser substituídos.
     
    Segundo o padre Luizinho, o restauro e ampliação do Santuário era um sonho antigo da direção do Educandário, devido à importância histórica de Passos para a Congregação dos Padres Rogacionistas. Outras razões são que a cidade foi cenário de um dos milagres de Santo Aníbal, que levou ao processo para sua beatificação, e o Educandário é a “casa-mãe” da expansão da Congregação Rogacionista no mundo.
    Bustos Monsenhor Messias e Santo Aníbal.

     

     
     
    “Por causa dessa importância, a gente queria um Santuário mais bonito e acolhedor”, disse o padre, observando que Cesar Tadeu soube traduzir a intenção dos Rogacionistas com seu projeto de ampliação, modernização, sem perder as características essenciais do Santuário. 
     
    Enio Modesto
     

    Bustos Monsenhor Messias e Santo Aníbal.
    Capela do Santíssimo Sacramento com um dos vitros retiradas da parede demolida.
    Cesar Tadeu abrindo a porta do pequeno jardim do novo espaço do Santuário.
    Cesar Tadeu e o pinheiro que ele salvou.
    Cesar Tadeu recostado na coluna revestida de chapas metálicas, ao lado, o relicário de Santo Aníbal.
    Lustres em formato de haste de trigo e vigas metálicas revestidas de gesso.
    Nova imagem do Santo Aníbal no jardim de frente ao Santuário, as escadas e rampas de acesso.
    Porta de jacarandá.
    Rrelicário com fragmentos do corpo de Santo Antonio de Pádua (imagem acima).
    Vista do altar, Presbitério com o vitral russo e os relicários de Santo Aníbal e Santo Antônio.
    Vista do teto, tela de Santo Aníbal, com relicários à esquerda e direita do altar e vitral russo no Presbitério.
    Vista parcial do Santuário, com arandelas no formato de hastes de trigo, o forro restaurado e o altar com o vitral e o relicário de Santo Antonio.
    Vitral de design russo no Presbitério do Santuário.

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