Cássio Mohallem Santiago
Arquiteto
Com o aquecimento global se confirmando a cada ano por meio do aumento da temperatura em várias regiões do planeta e o clima da terra sofrendo alterações, afetando os padrões de vento, chuva e a própria temperatura, a preocupação com o conforto térmico em residências ganha evidência. E os projetos arquitetônicos são uma espécie de termômetro desse fenômeno, que pode ser medido também pelo estudo dedicado ao assunto.
Segundo o arquiteto Cássio Mohallem Santiago, como Passos está numa região quente, a principal preocupação dos profissionais e clientes é com a minimização do calor nas residências, embora alguns desejem reduzir também o frio. Para atender essa demanda, não faltam ideias de projetos com estética moderna e a abundância no mercado de materiais e de soluções para climatizar uma casa ou um apartamento.
“Conforto Térmico é um assunto bastante atual. Tem merecido, nas últimas décadas, atenção especial de muitos estudiosos, os quais, motivados pela crise energética mundial, buscam formas de economizar energia para gerar frio ou manter calor conforme a região climática. Este fato leva forçosamente ao aprimoramento dos conhecimentos tecnológicos, bem como ao desenvolvimento de sistemas construtivos e novos materiais”, explica Cássio Mohallem.
Pergolado e vegetação - Jaboticabal - SP.
Entretanto, o arquiteto salienta que o estudo do conforto térmico deve estar presente desde a concepção do projeto, até a implantação e setorização dos cômodos da residência. A utilização de mecanismos artificiais de aquecimento, refrigeração, ventilação mecânica, controle de umidade, condicionamento de ar são apenas algumas das estratégias para se atingir o conforto.
Painéis de vidro devem ser voltados para o Sul ou Leste.
Embora seja uma necessidade e desejo dos clientes dos arquitetos, o conforto térmico é uma busca dos profissionais há muito tempo. No Brasil, essa preocupação se tornou evidente nos anos 50 e 60, quando passaram a ser empregados diversos mecanismos de controle da temperatura, como os brises e os pergolados, por exemplo, segundo conta Cássio Mohallem. Mas a popularização do ar condicionado nas décadas seguintes e a preferência da clientela pelos painéis de vidro acabaram deixando aquelas soluções, que não geravam impactos ambientais, para trás.
Fachada Escola preparada para receber brises - Belo Horizonte.
“Hoje em dia, tais soluções se tornam inviáveis economicamente com o elevado preço da energia elétrica”, avalia o profissional. Felizmente, os estudos levaram ao desenvolvimento de tecnologia que permite aos arquitetos criarem projetos que ofereçam um clima confortável tanto no verão quanto no inverno.
Segundo Cássio Mohallem, a escala arquitetônica é a estratégia inicial na elaboração do projeto, pois é com este mecanismo que o profissional procura adequar a forma da edificação e orientação das aberturas à escala urbana e regional, de acordo com a localização da residência. Assim, por exemplo, por causa das naturais diferenças climáticas, uma casa projetada no sul do país não pode obedecer aos mesmos critérios de uma residência projetada no nordeste.
Proposta de brises em escola - Belo Horizonte.
“Uma casa onde existe a preocupação com a diminuição da entrada de calor, e também com a melhor eficiência tanto nos aspectos térmico como luminoso, tem como objetivo a otimização da energia e consequente melhor utilização dos recursos naturais. Além disso, um projeto pode prever também a utilização de aproveitamento de águas pluviais. Hoje está sendo amplamente difundida em Passos a utilização de painéis fotovoltaicos para geração de energia, um tema que também devemos por em discussão e avaliar”, disse o arquiteto.
Proteção sobre painel envidraçado - Passos.
Como obter um clima confortável em casa
De acordo com o arquiteto Cássio Mohallem Santiago, os critérios para se obter o conforto térmico nas residências não são os mesmos para todas as regiões do país. Portanto, devem ser levadas em conta a trajetória do sol, a umidade e outros fatores climáticos que darão à região a característica de “mais frio” ou “mais quente”, seco ou úmido, entre outras.
Para ter os dados exatos, os arquitetos utilizam programas de computador que simulam a trajetória do sol e a incidência de seus raios, pois é esse astro o responsável pela temperatura dentro de uma residência. “As propriedades dos materiais empregados e utilização da inércia térmica dos elementos construtivos também podem ou não aumentar a transmissão térmica para o interior da casa”, acrescenta Cássio Mohallem.
O arquiteto explica também que o calor que chega a uma residência passa tanto pelos materiais translúcidos (as vidraças, por exemplo) como pelas paredes e principalmente pela cobertura, onde a incidência é maior. Mecanismos de ventilação natural como janelas e outras aberturas ajudam a controlar essa troca de calor.
Também são empregados no controle da temperatura as proteções externas, brises, pergolados, toldos, elementos vazados, marquises e varandas. Igualmente importante é a vegetação externa, com arborização e áreas permeáveis, por diminuir o calor incidente, minimizar a radiação solar nas paredes e proporcionar sombra, sem contar a valorização estética.
Para as residências já existentes há várias soluções para se obter o conforto térmico, observa o arquiteto. Dentre elas estão o aumento da ventilação natural, a mudança das superfícies envidraçadas para faces com menor incidência do sol, a utilização de materiais isolantes sob a cobertura e cores mais claras que possam reduzir parte do calor incidente.
“O fundamental seria o auxílio de um profissional que estudasse cada caso especificamente para tentar solucionar o problema”, recomenda Cássio Mohallem.
Enio Modesto
